Esse texto não é meu, mas bem que poderia ser, encaixa perfeitamente com meu estado de espírito.
Curtam!
Há algo de enfadonho e perigoso nas pessoas muito certinhas. Naquelas cuja fala não tem graves nem agudos, só médios. Nas que nunca desafinam, e ficam sem saber dos acordes interessantes que podem existir entre uma dissonância e outra.
Pessoas retas demais, dessas que têm quatro lados idênticos, não encaram uma curva do meio do caminho. Mas também jamais derrapam. O que poderia, de vez em quando, levá-las a lugares inesperadamente bons.
É preciso cuidado com pessoas que nunca gritam. Que jamais arriscam um palavrão. Um bom palavrão na hora certa é bálsamo para o coração em ebulição.
Levante a mão quem já foi assim.
Pessoas exageradamente arrumadas são viciadas no ton sur ton. Estão sempre a salvo, protegidas do erro. Contam com a aprovação do bando, mas acabam por se mesclar com qualquer fundo, qualquer estampa. Ficam invisíveis. E como geralmente não lembram onde puseram suas cabeças, precisam de alguém que as ajude a encontrá-las depois.
Dá vontade de suspirar ver sapato combinando com cinto. De desanimar de vez, se bolsa ou gravata entram no arranjo. Quem faz isso destoa é do mundo, incerto e múltiplo por definição.
Não existe graça alguma em quem não quis, ao menos uma vez na vida, morrer de amor. E não pode haver verdade em alguém que nunca contou uma mentirinha sequer.
Deve-se desconfiar de quem tem sala de estar igualzinha à da revista de decoração. De quem não tem pelo menos um armário bagunçado. De quem tem criança e não tem brinquedo espalhado pela casa. De quem faz tudo certo no trabalho.
Quem é assim, levante a mão. Se for capaz.
Divertido mesmo é quem divide, provoca, bota pra quebrar. Quem não vibra no uníssono do bom senso comum. Quem ama alto e chora mais alto ainda. Quem faz, todos os dias, alguma coisa de um jeito diferente.
Para ficar mais interessante (e desde que não comprometa saúde, segurança ou sentimento dos outros), gente precisa ter, vez por outra, um quê de desatino, uma pitada de desequilíbrio, um desejo de contravenção, uma certa dose de malandragem. Senão, lá na frente, não terá valido a pena.
Agora, vamos lá. Levante a mão quem um dia quer ser assim.
Autora: Silmara Franco
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